Aumento de idosos faz surgir serviços voltados para a 3ª idade


A população com mais de 60 anos deve dobrar no Brasil até 2042, na comparação com 2017. No ano passado, o país tinha 28 milhões de idosos, ou 13,5% do total dos habitantes. Em 10 anos, esse número chegará a 38,5 milhões. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Este artigo foi escrito por Ingrid Soares e publicado originalmente no portal Correio Braziliense.
De olho nas demandas crescentes desse público, Ana Flávia Melo, 52 anos, decidiu, há nove meses, investir na carreira de  cuidadora e motorista de idosos. Bem-humorada e de alto-astral, ela acompanha o cliente a consultas, vacinações, exames, internações, shows, cinemas, shoppings e caminhadas.
Formada em pedagogia e psicopedagogia pela Universidade de Brasília (UnB), Ana Flávia conta que a ideia surgiu quando o pai foi diagnosticado com câncer. “Eu o acompanhei durante toda a internação. Do lado do quarto dele, notei que tinha um idoso sozinho, e ele me disse que não tinha família”, lembra. “Todo dia, a gente conversava um pouco. Eu me prontifiquei a ajudá-lo durante aquele tempo. Notei que muitos idosos passam pela mesma situação.”
De acordo com a pedagoga, com a rotina intensa, muitas famílias não têm condição de levar os idosos para consultas ou mesmo lazer. “O meu diferencial é oferecer uma saída para aqueles que querem se manter ativos, sem depender diretamente da família. Minha mãe tem Parkinson, observei as necessidades, o tipo de carro, o suporte necessário e decidi preencher a lacuna na oportunidade de serviço”, diz. “Sempre tive o dom de ajudar. Hoje, trabalho no que gosto e sou realizada. Os pacientes se tornam amigos, criam-se vínculos. Não conheço ninguém em Brasília que faça o serviço que eu ofereço.”
A aposentada Lusa Soares Peres, 76, é cliente de Ana Flávia desde janeiro. Moradora do Jardim Botânico, ela foi diagnosticada com Alzheimer e conta com o auxílio da cuidadora para acompanhá-la, de segunda a sexta, em atividades diárias num centro especializado em geriatria. “Não tenho como sair sozinha, porque esqueço das coisas e me perco com facilidade. Ela é esclarecida, não me critica, me ouve e conversamos sobre tudo, principalmente política”, relata. “Quando estamos no carro, ouvimos Marisa Monte, Gonzaguinha e Maria Bethânia. Cantamos e nos divertimentos genuinamente. Nossos encontros são produtivos. Eu sinto como se fôssemos irmãs”, emenda.
Desde que começou a oferecer o serviço, os clientes dobraram, afirma Ana Flávia. “É um atendimento personalizado, de acordo com a necessidade de cada um. Há casos em que pego o paciente em casa, acompanho na consulta, gravo o que o médico diz e levo de volta para os familiares com tudo bem explicado.” O trabalho é cobrado individualmente ou por pacotes.

Inclusão digital com o “Neto de aluguel”

A idade avançada não é impedimento para que os idosos fiquem à margem da modernidade. Eles estão, cada vez mais, antenados na tecnologia. Pensando nisso, Ramon Miranda, 30 anos, oferece, em Belo Horizonte, o serviço de “Neto de aluguel”. A ideia surgiu após o rapaz auxiliar a tia com uma dúvida no celular. “Tive o insight, só que coloquei em prática dois anos depois. Tinha uma sociedade de hostel e larguei para investir no sonho”, conta.
Ramon diz ter de 10 a 15 clientes por mês. “As aulas são individuais, conforme a necessidade de cada um. As dúvidas, em sua maioria, são sobre como utilizar o celular e as redes sociais, mas também  têm sobre computador e televisão”, afirma. “A maior parte sabe o básico, mas quer aprender para mexer em redes sociais, pedir um carro, se comunicar com a família.”
Em média, as aulas duram de dois a três meses e podem ser feitas até duas vezes na semana. O cliente tem a opção de comparecer ao escritório ou escolher o atendimento em domicílio. “O uso da tecnologia é uma coisa básica. Por isso, é importante uma alfabetização digital”, defende.
A professora aposentada Heloína Maria Gouveia Rodrigues, 58 anos, foi cliente do Neto de aluguel e indica o trabalho. Segundo ela, o filho trabalha com informática, mas não tem tempo de ensiná-la. “Foi meu filho quem viu. Achei uma ótima ideia. A gente, que é mais velho, precisa estar conectado. A tecnologia só avança e, se a gente não correr, fica para trás. Anotei as minhas dúvidas numa agenda, e ele veio em casa.”.
Heloína diz ter se sentido à vontade com Ramon. “Ele é um neto de verdade. Com ele, não fico com receio ou vergonha, e passa muita paciência e segurança. No meu caso, queria aprender a usar o notebook. Não sabia ligar, nem navegar na internet. Também melhorei o uso do smartphone. A gente não fica dependente de ninguém”, festeja.
Para o geriatra Flávio Noronha, os novos serviços trazem benefícios sociais, tanto de integração quanto para a economia, pois criam um novo nicho de trabalho. “Temos um novo modelo de idosos, que é independente, mas que entende possuir limitações que precisam ser supridas. Eles buscam trabalho personalizado”, comenta.
Serviços públicos
No setor público também há opções de serviços para idosos, como afirma o geriatra Flávio Noronha. “Há grupos de tai chi chuan, dança, automassagem, meditação. Têm os Centros de Convivência da Pessoa Idosa (CCI’s), com atividades de artesanato e música. É importante buscar informações sobre o que cada localidade oferece e aderir à atividade que mais gostar”, orienta.
Este artigo foi escrito por Ingrid Soares e publicado originalmente no portal Correio Braziliense.

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