Envelhecimento da população abre novas frentes de negócios


O crescimento do público da terceira idade, que passará de 13,5% para 29,3% da sociedade brasileira em três décadas, muda a forma como empresas se relacionam com seus clientes

O número de idosos não para de crescer no Brasil. Com o avanço da medicina, que contribui para o aumento da longevidade, e a redução vertiginosa da natalidade, o país terá um perfil demográfico semelhante ao de países europeus daqui a alguns anos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram isso. Pelos cálculos do último censo, a população acima de 60 anos representa hoje 13,5% da população. Em 2027, o público da terceira idade será 17,4% e, em 2050, 29,3%. Mas não pense que o Brasil será um país de aposentados jogando baralho na praça. Essa geração, ao contrário, não quer ficar em casa parada vendo o tempo passar.

Este artigo foi publicado originalmente no site em.com.br

“O antigo conceito de velhice hoje está muito mais associado à ideia de maturidade, com pessoas extremamente ativas, articuladas e consumistas”, disse o professor de medicina Mario Schefer, especialista em demografia e membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, em recente evento na Universidade de São Paulo (USP). A nova terceira idade está à procura de produtos e serviços que atendem aos seus anseios, um movimento que, no universo corporativo, está estimulando o surgimento de oportunidades de negócios.

Com o foco nesses consumidores, empresas de vários segmentos – como agências de viagens, planos de saúde, construtoras, escolas de idioma e informática e academias, entre tantos outros – estão criando negócios específicos para o cliente mais experiente. “As empresas estão descobrindo que vale a pena investir na terceira idade, uma classe antes esquecida e que enfrentou muitos tabus e preconceitos”, afirma Marcos Bulgarelli, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados.

Residencial Santa Cruz tem estrutura de um hotel cinco estrelas e mensalidades a partir de R$ 7,8 mil
(foto: Residencial Santa Cruz/Divulgação)

Um bom exemplo desse potencial é o campo tecnológico. Atualmente, o mundo tem exigido que os idosos estejam conectados, seja para manusear o autoatendimento em uma agência bancária, seja na hora de usar um smartphone para responder a mensagens no WhatsApp. Foi por isso que a rede de escolas Microlins, especializada em informática e cursos profissionalizantes, com 400 unidades no país, decidiu criar o curso Melhor Idade Conectada, que ajuda o idoso a conhecer e aprender a utilizar o computador, o tablet e os aplicativos em smartphones, tanto para tarefas do dia a dia quanto para se comunicar por meio das redes sociais. “As empresas precisam entender que esse público está cada vez mais antenado”, diz o empresário Renato Buono, dono de franquias da empresa. Atualmente, 10% do seu faturamento são provenientes do curso específico para pessoas mais maduras. Ele acha que dobrará o percentual em no máximo 2 anos.

MAIOR DEMANDA A julgar pelos números, o potencial é imenso. O público que mais cresce em termos de acesso à internet e utilização de computadores é o da terceira idade. Em comparação com o mesmo período do ano passado, a procura por esses cursos triplicou. Segundo a pesquisa realizada pelo IBGE, mais de 9 milhões de brasileiros acima de 55 anos estão no Facebook, 50,82% têm entre 61 e 70 anos e 45,1% passam 3 horas diárias ou mais na internet. “Respeitando o tempo de aprendizado, que difere dos alunos mais novos, o idoso poderá conectar-se, atualizar-se e sentir-se mais seguro no universo digital”, garante Buono.

O aumento do número de consumidores mais velhos está aquecendo também o segmento fitness. A rede de academias Bodytech resolveu investir na estrutura exclusiva para suprir as necessidades desse público. Segundo o diretor técnico da empresa, Dudu Netto, a ênfase do programa, chamado de Care, é criar uma cartilha dos exercícios adequada ao perfil de cada um. “Nossa principal missão é supervisionar esses alunos de forma segura, motivadora e sistemática”, diz Netto.

De acordo com o executivo, os professores têm qualificação rigorosamente direcionada para, além dos exercícios, contribuir em questões relacionadas à nutrição e patologias características da idade. “As aulas focam na prevenção de quedas, aumento da força muscular e da mobilidade, capacidade aeróbica e maior da autonomia física”, afirma Netto. Atualmente, 8% dos alunos da Bodytech estão na faixa acima de 60 anos.

Assim como a Bodytech, a rede Bio Ritmo aposta na expansão do segmento. A empresa criou em 2003, de forma embrionária, o programa Bio Master, voltado à terceira idade. Hoje o sistema é operado em 11 unidades da rede, com um total de 640 alunos. “Nossas aulas são planejadas de acordo com as necessidades de pessoas com mais de 60 anos de idade e oferecem um acompanhamento e direcionamento individuais”, afirma Paola Beltrami Rossani, professora do programa Bio Master.

Maior presença dentro das academias do país

Rede de academias Bodytech investiu em estrutura exclusiva para atender público com mais de 60a nos
(foto: Bodytech/Divulgação)



Recente estudo elaborado pela Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil), em parceria com a PUC-SP e a PUC-RJ, concluiu que o número de pessoas com mais de 60 anos que frequentam academias aumentou de 5% para 30% na última década, ajudando a aquecer um mercado que movimenta cerca de R$ 600 milhões por ano, segundo a pesquisa.

As oportunidades de negócio vão muito além de escolas e academias. Exemplo disso é o Residencial Santa Cruz, um “asilo” de luxo inaugurado no ano passado, em São Paulo. O complexo mais parece um hotel cinco-estrelas, cercado por um grande jardim e 35 mil metros quadrados de mata atlântica nativa. Um prédio de quatro andares abriga 78 leitos, espalhados em suítes individuais, duplas e triplas. A construção também conta com salas para a realização de exercícios físicos, além de tratamentos diversos de saúde e atividades de lazer. As mensalidades vão de R$ 7,8 mil a R$ 15,6 mil.

“O conceito de qualidade de vida na idade avançada é muito mais bem difundido na Europa e nos Estados Unidos, e começa agora a receber a devida atenção no Brasil”, diz Priscila Kim, administradora do Residencial Santa Cruz. O empreendimento foi idealizado pelo Instituto das Irmãs da Santa Cruz, comandado pela missionária americana Diane Cundiff, com investimento de R$ 32 milhões. Hoje, o índice de ocupação está em 55%.


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