Nosso cérebro e as proteínas da longevidade

Nosso cérebro e as proteínas da longevidade

Estudos em humanos centenários demonstraram que muitos compartilham uma versão incomum de gene que protege dos efeitos nocivos do estresse oxidativo

 

A Weill Cornell Medical College, faculdade de Medicina afiliada à Universidade Cornell, foi fundada em 1898. É uma idosa de 123 anos. Em um de seus prédios centenários, no Upper East Side, em Nova York, uma jovem pesquisadora sul-coreana, Jihye Paik, formada em Medicina pela Seoul National University, se dedica a um estudo que nos interessa: descobrir como a proteína Forkhead Box Protein O3, que em humanos é codificada pelo gene FOXO3, contribui para a saúde do cérebro durante o envelhecimento.

Estudos em humanos que vivem mais de 100 anos demonstraram que muitos compartilham uma versão incomum da FOXO3, que protege as células-tronco dos efeitos nocivos do estresse oxidativo.

O estresse oxidativo ocorre quando tipos prejudiciais de oxigênio se acumulam nas células. Paik, que é professora associada de patologia e medicina laboratorial, lembra que muitas coisas podem causar estresse no cérebro, como inflamação e falta de nutrientes adequados.

Em 2018, ela e sua equipe já tinham demonstrado que camundongos sem o gene FOXO3 no cérebro são incapazes de lidar com condições estressantes, o que leva à morte progressiva das células cerebrais.

Agora, um novo estudo, publicado na Nature Communications, revela que o FOXO3 preserva a capacidade do cérebro de se regenerar após o estresse, evitando que as células-tronco se dividam até que o ambiente suporte a sobrevivência de novas células.

A doutora Paik alerta que ainda é cedo para esperar que suas pesquisas levem a tratamentos capazes de curar doenças cerebrais.

O que sabemos é que, para viver mais, devemos manter uma boa reserva de células-tronco cerebrais – e que pessoas com vidas extraordinariamente longas e saudáveis possuem algumas versões específicas do FOXO3.

“Aprendemos que o FOXO3 é modificado diretamente pelo estresse oxidativo”, disse ela na reportagem “Study Reveals How a Longevity Gene Protects Brain Stem Cells From Stress”. Para entender melhor os processos envolvidos, ela e seus colegas continuarão a estudar como o FOXO3 é regulado e se aumentá-lo ou diminuí-lo brevemente seria benéfico para a saúde.

A FOXO3 não é a única proteína associada à longevidade. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Tübingen, na Alemanha, analisaram os níveis da proteína Neurofilamento de cadeia Leve (NfL, na sigla em inglês) no sangue de 315 pessoas entre 90 e 100 anos. No caso da NfL, porém, quanto mais baixos os níveis no cérebro, melhor.

Outros estudos já haviam mostrado que altos níveis de NfL podem indicar o aparecimento de doenças neurodegenerativas. E, em 2018, pesquisadores da USP comprovaram que a proteína Klotho, descoberta em 1997, estimula a produção de lactato, que alimenta os neurônios e mantém as células cerebrais funcionando.

Assim, ajudaria a evitar doenças como Alzheimer. O que podemos fazer a respeito? Não sei você, mas eu vou continuar correndo e fazendo meus exercícios físicos. Sabe por quê? Eles ajudam a aumentar o FOXO3 no cérebro.

*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”

Publicado originalmente na Revista Época Negócios.


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